quarta-feira, 12 de maio de 2010

Maternidade: Desejo X Realidade


A Ká, minha amiga nômade que agora está em SP, pediu para eu postar alguma das minhas "viagens filosóficas", escrever alguma coisa mais séria, com conteúdo, do tipo das pautadas nas nossas conversas.
Passado o dia das mães, resolvi escrever sobre o assunto que mais martela na minha cabeça ultimamente: Gravidez/maternidade/filhos.
Estou com 32 e casada há 11 anos. O Fer é um doce, e o meu filho com ele certamente será lindo e inteligente. Mas a maternidade, mais propriamente criar um filho, é algo que me apavora.
Não dou a mínima para os enjôos, dor de parto, estrias, ganho de peso. Imagino que gerar um filho seja algo mágico. A mulher sente-se encantada, suprema. Deve ser delicioso acalantar a cria, cheirá-la, lambê-la e depois tê-la presa ao peito, sentindo as batidinhas do coraçãozinho dela junto ao seu. Porém, um dia o filhote irá crescer e procurar o seu bando. Ele poderá ser temperamental, desobediente e rebelde. Ele irá criticá-la e culpá-la por todos os problemas psicológicos que desenvolveu e por ter escolhido a profissão errada.
Outro dia li numa tese de Psicologia que toda a mulher deseja ser mãe. A doutora sustentava a teoria de que todas nós temos um complexo de castração, e que apenas nos sentimos completas quando geramos um filho. O filho na barriga é a substituição do falo que nos falta. Será? Pode ser!
Então, segundo ela, ocorre o seguinte: passada a fase mágica, o falo substituído, a criança sai da barriga e a mulher, agora mãe, não sabe exatamente o que e como fazer com aquela criança. E muitas vezes a criança passa a ser um estorvo, atrapalhando os sonhos dos pais. Mas os pais achavam que a queriam, achavam que a vida estava sem graça e que somente uma criança encheria a casa de felicidade. Mas esqueceram que a realidade pode ser bem diferente do "comercial de margarina", e se depararam com a realidade: choro, fraldas, babá, creche, falta de tempo e de dinheiro, corridas ao hospital no meio da noite, frustrações...
Eu fico emocionada ao ver uma mãe com seu filho nos braços. Nenhum amor é mais profundo e puro do que o amor materno. Mas como eu disse, fico “emocionada”. E, pensando racionalmente, ter filho é um desejo puramente emocional. Pois, a probabilidade daquele serzinho te frustrar, e vice-versa, é de 99,9%. Porque os filhos nem sempre são o que os pais desejam (e às vezes é melhor que não sejam mesmo!), e os pais também não são o que os filhos desejam. Então, o lance é forte e a maternidade continua me levando para o divã. Quero deixar bem claro que tenho uma mãe maravilhosa! E que provavelmente a minha mania de perfeição, o medo de errar, de não dar conta, de não ser capaz de transmitir o melhor, de causar sofrimento e de sofrer, tudo isto seja a razão das minhas questões, e não a minha criação. Mas desencano quando percebo que não sou a única a refletir racionalmente sobre o assunto. Adorei o que a Martha Medeiros escreveu na sua coluna, em homenagem ao dia das mães. Divido com quem não leu a Zero no domingo:
Duas histórias sobre mães
Martha Medeiros
Nem todas as mães nascem com o dom da abnegação, e nem por isso são pessoas más.
Essa semana, duas leitoras me mandaram depoimentos pessoais que dividirei com vocês, mas com nomes fictícios. Um foi assinado por Anita, que me contou que, numa loja, foi atendida por uma balconista jovem e humilde que comentou ter quatro filhos, e que pretendia partir para o quinto. Anita, mesmo correndo o risco de ser indiscreta, perguntou se o salário dela comportava o sustento de cinco crianças, no que a balconista respondeu: Ora, elas têm pai. Anita não se conteve e declarou: Acho que uma mulher pode ter tantos filhos quantos ela conseguir sustentar sozinha. Diz Anita que a balconista ficou perplexa, e talvez muitas outras mães também fiquem, mas foi corajosa e realista a sua observação. Marido não é seguro-desemprego, não vale por uma previdência privada. No caso de uma separação, claro que ele terá obrigação de dividir as despesas relacionadas aos filhos, mas, infelizmente, sabemos que nem sempre a coisa se dá com essa civilidade. Alguns pais não podem ou não querem arcar com seus deveres e transferem a responsabilidade para quem manteve a guarda. Enquanto a briga é decidida na justiça, as crianças ficam desassistidas. A questão é que podemos ter quantos filhos desejarmos, desde que não transformemos o sonho romântico de ser mãe numa dívida impagável com nossos filhos e com a sociedade.
O segundo depoimento veio de uma senhora chamada Vânia que me contou que passou a vida escutando sobre como as mães são amorosas e perfeitas, mas a dela não foi nada disso. Era uma mãe desatenta, egoísta e sem o menor talento para o ofício. Vânia deve ter motivo para tanta mágoa, já que hoje sua mãe está com 95 anos, tem câncer no cérebro, e nem assim Vânia consegue perdoá-la. E se culpa, porque reconhece que já deveria ter virado essa página.
Se sua mãe não lhe causou nenhum dano concreto, se apenas não foi a mãe sacralizada que você dava como certo que teria, tente mesmo perdoá-la, Vânia. É provável que você mesma já seja mãe e saiba que há sobre todas nós uma cobrança descabida. Se o erro dela foi ter pensado mais em sua própria carreira, em seus próprios amores, em sua própria felicidade, ainda assim, antes de ser condenada, merece ser compreendida, porque é preciso reconhecer que nem todas nascem com o dom da abnegação, e nem por isso são pessoas más, apenas não alcançaram a dimensão da entrega necessária para uma tarefa desse porte: criar outro ser humano.
Entre os cinco filhos da balconista que atendeu Anita pode haver algum que irá julgar a mãe uma inconsequente, caso ela não consiga bancar as necessidades básicas de todos os irmãos, e os filhos de Vânia talvez um dia a cobrem por ter passado a vida amargurada com a avó deles. Por trás das cortinas desse espetáculo chamado maternidade, há muito desajuste e muito rancor por conta de uma idealização excessiva. Mãe não tem superpoderes. Se tiver juízo, já está bom demais.


3 comentários:

  1. "... O maior erro do ser humano, é tentar tirar da cabeça aquilo que não sai do coração..."

    Feel is better than thinking! Try...

    Te amo!

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  2. Ai amiga, estava pensando no que escrever então li o comentário acima e vi que a Paula já deu o meu recado. Se deixares a razão decidir, não serás mãe nunca. E não estás errada não, só uma louca para colocar 5 filhos no mundo como a balconista do texto da Marta Medeiros.
    Ser mãe é amor, não é razão!
    Beijocas

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  3. Jai, não sei pq não foi postado, meu recado anterior, mas enfim lá vamos nós!
    Em primeiro lugar quero dizer que demorou mas valeu a pena esperar!!!!
    Bom Jai, sei bem o que esta falando e embora nós saibamos o que a razão não predomina a maioria das gravidezes, vou te dizer que quem dera toda a mulher tivesse um pouco dessa consciência que tens, talvez evitássemos muitos filhos renegados, abandonados, maltratados e tantas outras situações absurda que vejo por todo o lado.
    Não estas preparada, e para ser MÃE é querer e ter condições não só financeiras, mas principalmente psicológicas.
    QUERIA MUITO É QUE TODAS AS MULHERES PRESTASSEM UM TIPO DE VESTIBULAR, ANTES DE SER MÃE, PORQUE TER FILHO É FACIL! A questão educar, cuidar.
    Tens todo meu apoio, quando concluir com tuas razões vai ser mãe ou não!!
    Bjs, minha AMADA amiga.

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